Hábito ou vício?Você tem o hábito de se viciar?

O hábito pode ser entendido como todo comportamento adquirido, voluntariamente ou condicionado, e que costuma se repetir com determinada frequência, podendo ser saudável ou não. Estudos mostram que 40% das nossas decisões diárias são baseadas em hábitos. 

Por exemplo, hábitos saudáveis como escovar os dentes, alongar-se, beber água, praticar atividade física são sempre muito bem-vindos e podem ser desenvolvidos e aperfeiçoados. 

No entanto, outros hábitos podem ser muito disfuncionais e gerar inúmeros desconfortos. Por exemplo: roer as unhas, checar as redes sociais em excesso, consumismo exagerado, procrastinação, estalar as articulações, entre outros, são hábitos que podem gerar vários problemas a curto e médio prazo, porém, sempre existe a possibilidade de transformação e dissolução do hábito nocivo, através da ampliação da consciência. 

No entanto, quando o hábito começa a se tornar uma válvula de escape contínua e recorrente e passa a trazer transtornos desagradáveis e consequências na vida diária, existe a possibilidade dele se transformar em um vício. 

O vício é algo que não conseguimos largar, perdemos o controle e ficamos dependentes e compulsivos. Nos incita ao prazer sensorial e mental e propicia recompensas imediatas, porém, como consequência, ocasiona distúrbios físicos, comportamentais, relacionais e psicológicos durante ou logo após a prática. 

Drogas de todos os tipos, workaholismo, jogos de azar, tecnologia de todas as formas, pornografia, alimentação tóxica, sexo obsessivo, pensamentos repetidos, entre outros, são exemplos de padrões viciantes e nocivos.  

  • Você já parou para se observar atentamente sobre seus hábitos e vícios?  
  • Qual o padrão mental/emocional (gatilho) recorrente que você tem no momento em que você deseja praticar o ato?  

Primeiros hábitos na vida

Hábito ou vício?É fato, somos seres habituados e condicionados a um padrão repetitivo no dia a dia. Nos acostumamos e nos habituamos a modelos aprendidos anteriormente. Muitos de nossos hábitos tem seu nascimento no primeiro setênio de vida, onde aprendemos a nos expressar, agir, reagir…  

O primeiro hábito criado pelo ser humano foi o hábito de respirar. Aprendemos no colo de nossa mãe, sentindo seu peito e sua respiração e a tendência é imitar e repetir o padrão respiratório dela. Junto à respiração, também estão os padrões de uma mente emocional e, assim, também nos habituamos a pensar e sentir como ela, e no decorrer, muitas vezes, vamos para o extremo oposto. 

A forma de nos expressar, também foi apreendida nos primeiros anos de vida, principalmente, o “como” nos expressamos diante das situações em função do grau de atenção e reconhecimento do outro, o “como” nos relacionamos. 

O hábito faz o monge…

  • Será que fomos ouvidos e cuidados? E hoje?
  • Será que recebemos a atenção devida? E hoje?
  • Expressávamos o que sentíamos ou guardávamos? E hoje?
  • Precisávamos gritar para sermos ouvidos? E hoje?

Que condições vivíamos e vivemos para criar alguns condicionamentos?

Todo condicionamento vem de uma condição

A condição em que crescemos, sem dúvida alguma, é um fator importantíssimo para a criação de hábitos, condicionamentos e vícios adquiridos no decorrer. Muitos hábitos são desenvolvidos ao imitarmos nossos pais, e podem ser até inconscientes.  

Por tantas vezes, ao assistirmos a mesma “cena”, nós acabamos repetindo o mesmo padrão comportamental ou indo exatamente para o extremo oposto. Outros hábitos foram e são desenvolvidos pelo meio social e situações atuais recorrentes em que vivemos. 

A atitude condicionada tem uma função importante em nosso organismo: poupar energia, ou seja, quando nos habituamos a alguma atividade corriqueira, nós caímos no piloto automático, e assim, não nos demanda esforço e energia. Toda novidade e transformação, exige do nosso corpo e mente muita atenção e dedicação às etapas novas, o que gera um certo nível de desgaste energético e stress. 

Quando repetimos tal comportamento muitas vezes, nosso cérebro o registra como um código, que é acionado e nos leva ao resultado esperado imediatamente, sem a necessidade de pensar sobre cada detalhe ou ter um esforço em demasia. Porém, ao nos mantermos no automatismo, deixamos de viver nossos potenciais e propósitos essenciais. 

Ao nível do ego, nós buscamos preencher o tempo todo, os nossos vazios, porém, é fato, eles só são preenchidos momentaneamente.

Hábito ou vício?O poder do hábito

O livro “O Poder do Hábito”, de Charles Duhigg, chama este mecanismo de “Loop do Hábito”. Ele se refere à tríade do hábito: a deixa, a rotina e a recompensa, e afirma que todo o mecanismo do hábito é composto por estes três elementos. Se nós compreendermos esta dinâmica, teremos muito mais chances de nos livrarmos dela.  

  • A deixa é o gatilho, aquilo que remete ao indivíduo o desejo de passar pelo ciclo do hábito. Na maioria das vezes, o estado emocional é o grande gatilho, como também a localização, o tempo, o social e a atividade anterior ao hábito. 
  • A rotina é todo o processo vivencial já aprendido e automatizado, o ato viciante em si. 
  • Já a recompensa, o próprio nome já diz, é a sensação de bem-estar e prazer conquistado.

Desejo

Neste processo há o elemento que mobiliza o mecanismo: o desejo (o anseio devido a uma falta). Todos nós, conscientes ou não, adquirimos novos hábitos ou vícios para suprir nossos anseios e carências. Estes, podem ser necessidades sociais, psicológicas, emocionais, físicas, etc. 

A Natureza do desejo é a falta, a insatisfação.

Leia: Vício e satisfação geram insatisfação.

Qual a diferença entre hábito e vício?

Hábito ou vício?Hábitos podem ser adquiridos e modificados e, apesar de alguns serem negativos, é possível evitá-los com certa atenção e dedicação. Por exemplo, quando você está em algum lugar e não pode realizar determinado ato compulsivo, possivelmente se sentirá ansioso, mas não passará de um desconforto. 

Já no vício, o grau do prejuízo é significativamente maior do que no hábito disfuncional. Outra diferença entre hábito e vício, é quando determinado condicionamento adquirido, apresenta sintomas de dependência e compulsão. O hábito, apesar de desconfortável, é possível evitar, já o vício não. 

O indivíduo sente uma necessidade extrema de repetir o comportamento em busca de preencher o desejo, e naturalmente reverbera em sintomas físicos, sensoriais e psicológicos característicos.  

Em outras palavras, nós temos a liberdade de escolher, modificar e conter nossos hábitos, porém, o mesmo não acontece quando nos tornamos viciados em algo e passamos a não controlar nossos impulsos e desejos obsessivos. 

É fundamental compreender, principalmente, quais anseios e desejos o levam a adquirir tais hábitos e vícios, elevando a percepção de quais pensamentos, emoções, sensações e sentimentos geram o gatilho para a prática viciante. 

Vício: prazer para aliviar a dor

A ciência médica já considera que a essência de uma definição de vício está no “desejo ardente e recorrente por uma experiência ou objeto que faça a pessoa sentir-se bem, que resulta em elevação da dopamina, aumentando, assim, a sensação de prazer e o alívio de dores e desconfortos.” Seja o álcool, o café, o cigarro, o sexo, o trabalho, a religião, a alimentação ou as drogas recreativas, o processo é sempre o mesmo.  

O desenvolvimento do autoconhecimento é fundamental para a compreensão deste mecanismo destrutivo e sabotador. Quando também silenciamos nossa mente, temos a tendência de ampliar consideravelmente a percepção e a compreensão sobre todo o processo construído e condicionado, ligado ao vício. 

E segue a sugestão de 4 pontos fundamentais para a mudança de hábito, segundo Duhhig: 

  • Isole e conheça profundamente o gatilho;  
  • Identificar e trazer qualidade de presença à rotina; 
  • Experimentar outras recompensas; 
  • Ter um enfrentamento consciente da dor e desconforto.

A auto-observação é um grande hábito. 

Experimente!

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