Livre ArbítrioVocê é o autor da sua história? 

A “arte da escolha” é um grande exercício de liberdade na vida. Através dela, podemos caminhar em direção aos nossos propósitos essenciais e realizá-los, ou seguir o modelo vigente do inconsciente coletivo e sermos vítimas do sistema. 

O autoconhecimento e a consequente autorresponsabilidade são chaves fundamentais para podermos desenvolver a arte da escolha com consciência e clareza. 

Quando não assumimos o “escolher”, nós somos escolhidos e viramos coadjuvantes da história dos outros, sejam nossos pais, parceiros, chefes, amigos, sociedade, etc.  

A não escolha é uma escolha!

E assim, seguimos num modelo condicionado a padrões e crenças pré-estabelecidas, sem questionar se determinada situação nos gera sentido, nos faz sentir… 

O uso do livre arbítrio, infelizmente, ainda é para poucos. É somente para aqueles que estão despertos para a autoria e protagonismo em suas vidas. Aqueles que assumem as suas escolhas e renunciam outras. 

Toda escolha, tem renúncias

A arte da escolha implica numa permissão interna para viver novas experiências, sair do controle, abrir espaço para a vulnerabilidade e, assim, esperar o inesperado. 

Desenvolver a autoria, implica em escolher a direção, ritmo e caminho de seus passos, mesmo não tendo a clareza do resultado, mas confiando que a ação consciente “do hoje”, propiciará frutos saudáveis para o amanhã. 

Sua felicidade depende da qualidade de suas escolhas.

A liberdade se diferencia do livre-arbítrio pelo fato de que, enquanto a primeira tem sua expressão no mundo externo (ações, expressões, experiências), o livre-arbítrio é uma faculdade que vem de uma consciência interna a partir do autoconhecimento, discernimento e clareza vindos do Ser.  

Livre ArbítrioSou eu, o autor de minha vida?

A qualidade da escolha depende, e muito, da percepção de quem somos e do que queremos nesta existência, portanto, o autoconhecimento é a porta de entrada para o desenvolvimento do livre arbítrio. 

A maioria de nossas escolhas são automatizadas e inconscientes, levadas pelo coletivo, por uma sociedade baseada em dogmas e padrões (de qual é a forma certa de viver e de se relacionar). 

A verdade é que, muitas vezes, somos reféns das visões que criamos para nós mesmos e seguimos “repetindo o modelo” aprendido e vigente em nossa sociedade. Este tipo de postura é um padrão de “domesticação” que simboliza escolhas e caminhos já pré-definidos que trazem um pseudo-controle, estabilidade e segurança. 

Temos dificuldade de improvisar, de viver situações inesperadas, diferentes e de deixarmos espaços livres para novos caminhos na vida. A atitude mais comum é nos precipitarmos em nos apresentar de modo fiel a uma “identidade pré-concebida” que acreditamos ser ou, mesmo, “fingir” que somos o personagem que inventamos. 

O Novo…uma possibilidade de livre arbítrio

Talvez um “estranho”, que acabamos de conhecer na rua, nos daria espaço para ser/estar de uma forma diferente e inusitada; ou mesmo, a nossa presença e atitude possibilitaria àquela pessoa poder se descobrir em outros papéis e sentidos. Por exemplo, se o tímido pudesse ser extrovertido pela primeira vez, o autoritário pudesse relaxar e sair do controle e o canalha se emocionar e se apaixonar profundamente…  

Quando vivemos várias realidades distintas e lidamos com uma ampla gama de situações e histórias, existe uma possibilidade de perceber que muitas vezes nos moldamos às situações, sem a consciência clara que fizemos escolhas automatizadas. 

A Autossabotagem é um comportamento inconsciente que parte de uma percepção equivocada de autoengano e de momentos de autoabandono e autoesquecimento de quem realmente nós somos. 

Atrás de cada postura e comportamento, há uma tendência. Quando uma criança chora demasiadamente, pode haver uma tendência à carência. Por trás do nariz empinado, uma tendência ao orgulho.  

O que, então, estaria por baixo dessa base de tendências e condicionamentos?

Livre ArbítrioEmbora essa pergunta possa parecer filosófica, ela é o cerne de nossa insatisfação, de nossa instabilidade de energia e ânimo. É justamente por transitar de uma identidade à outra, sem consciência, que seguimos não vivendo a autoria das nossas escolhas.  

Não é o “transitar” que nos aflige e, sim, o nosso apego em cada personagem (“eu sou isso”) que nos coloca em crise, cada vez que um deles se dá mal ou alguma situação termina. Quando a/o namorada(o) nos abandona, sentimos no corpo a sensação do vazio, nos falta ar, sofremos.  

A morte não é só do outro, mas principalmente daquele personagem que habitávamos e nos identificávamos, por exemplo, como sendo o/a “namorado(a)” da tal pessoa. “O livre arbítrio acontece no momento que resolvemos responder conscientemente às situações e não simplesmente reagir.” 

Para compreendermos melhor a causa da insatisfação recorrente: a mente mais ordinária e comum é faminta e ansiosa e enquanto não praticarmos a “des-identificação” e o desapego de certos padrões mentais, estaremos sempre conectados à ânsia da completude, de algo que nos preencha. 

Há duas maneiras de nos relacionarmos conosco: acreditar no que somos ou ver nossas faces como personagens de nós mesmos.

 Gustavo Gitti 

Liberdade de sentir??

O ser humano não sente o que quer, mas sim o que aprendeu em sua existência sobre o “sentir” e também sobre as condições que o rodeiam. Reage às situações da vida de forma automática, numa mistura de ligeira consciência e condicionamentos, onde este último ocupa lugar predominante. Acaba exercendo apenas os movimentos que lhe são permitidos pela sua mente dual: ou gosta, ou não gosta, e assim manifesta-se em conformidade com essas impressões. 

Desidentificação

Quando assistimos um filme, sabemos que é só um filme, mas nosso corpo e emoções não: todas as glândulas se ativam, nos contorcemos, a respiração muda, a postura corporal se modifica, choramos, gargalhamos, nos movemos, ou seja, nos identificamos com o que está acontecendo. Nossa energia está no processo de identificação, então, vivenciamos a situação como se ela fosse real.  

O livre arbítrio acontece através da liberdade de escolha, e no exemplo desta situação, nós praticamos a  (des)identificação, então, percebemos que este filme é apenas uma ficção, uma ilusão, não é uma realidade. 

Se apenas escolhermos buscar a liberdade desidentificada, ela será estéril, sem energia, sem vida e impotente perto de nossos ânimos e emoções. O resultado será hesitação antes e culpa depois de cada momento. Se escolhermos apenas nos jogarmos aos prazeres da vida (Carpe diem), seremos presa fácil e, eventualmente, acabaremos aniquilados pela aparente concretude do mundo – ansiedade antes, frustração e insatisfação depois.  

Entretanto, nossa história não precisa ser assim, se escolhermos ser capazes de usufruir da energia da identificação e, ao mesmo tempo, agir com a liberdade da desidentificação, estaremos utilizando o dom do livre arbítrio com excelência. 

Autoengano e a ilusão nas escolhas

Quando nos relacionamos vemos, muitas vezes, que os outros encenam mentiras para nós, na tentativa de eles mesmos reiterarem suas próprias ilusões, e assim, somos parte de seus processos de autoenganos, como se eles pensassem: “se ele acreditar que eu sou assim, então eu acreditarei também”. Então, muitas vezes, vamos caminhando em escolhas sabotadoras e ilusórias. Nos enganamos e nos distraímos em situações externas. 

A vivência do autoconhecimento é fundamental para podermos desapegar das ilusões. É deste encontro especial que surge a des-ilusão, ou seja, sair da ilusão, a grande oportunidade de transformação profunda interior, daquele que percebe que antes do objeto, existe um sujeito (o Eu). E quem é este sujeito apegado ao objeto? 

A liberdade do Ser, o verdadeiro caminho para o livre arbítrio

A liberdade do Ser não é o que se expressa ou o que se resguarda. Ela é pura abertura, mobilidade e espacialidade, sem tendências e nem bases. Assim que pararmos de acreditar em nossas próprias crenças, dogmas e decisões, abdicando do controle e da certeza, estaremos prontos para oferecer isso aos outros com nossa simples presença.  

“Viver além de si mesmo” é também convidar os outros para que saiam de seus casulos, para que andem sem bases ou tendências pelo mundo e possam fazer uso da liberdade da escolha consciente:  o livre arbítrio. 

Pratique!

A vida é uma combinação de destino e livre-arbítrio.
A chuva é o destino, a possibilidade de se molhar ou não, é o livre arbítrio.

Sri Sri Ravi Shankar 

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