É muito comum, consciente ou inconscientemente, carregarmos padrões de culpa em nossa história de vida. O ato de viver é um aprendizado contínuo e, muitas vezes, escolhemos e agimos de forma mais impulsiva ou reativa. Consequentemente, existe a tendência de criarmos situações desconfortáveis e dolorosas no universo dos relacionamentos e da vida como um todo. A partir daí, surge também a culpa.
O tempo todo, de momento a momento, estamos fazendo escolhas e a qualidade de nossas escolhas pode trazer muita alegria, prazer e paz, ou, o oposto, sofrimento, dores, caos e culpa.
Estas escolhas indevidas podem refletir a falta da presença, maturidade, consciência e responsabilidade. E, é muito natural, neste processo de desenvolvimento através das escolhas, passarmos por caminhos tortuosos e sofridos, até despertarmos para propósitos essenciais, através de cada escolha.
Nós vamos aprendendo e amadurecendo com nossos “erros”. Eles são sempre ensinamentos e lições recebidas e, à medida que o aceitamos e integramos em nossas vidas, vamos evoluindo. Como seres humanos que somos, também vamos aprendendo a desenvolver a autorresponsabilidade.
O padrão da “culpa”, que é o hábito de sempre culpar algo ou alguém externo ou, o oposto, onde nós sempre nos colocamos como o culpado das situações, é um comportamento recorrente e viciante de autossabotagem. Este padrão nos isenta de autorresponsabilidades e, como consequência, limita a expressão de nossos potenciais e expansão de consciência.
A culpa vira uma desculpa quando nos acomodamos, nos tornamos vítimas, nos resignamos e deixamos de expressar e viver nossas potências. Desta forma, nós desistimos de evoluir e nos transformar e ficamos no conforto da acomodação, apesar de tanto desconforto.
Que possamos assumir a autoria, libertar a culpa e desenvolver a habilidade em responder (responsabilidade) às situações da vida com muito mais consciência e discernimento.
O sofrimento do padrão da culpa
Primeiramente, num nível mais básico, podemos nos lembrar que a culpa não traz nenhum tipo de benefício e evolução, ela só aumenta nosso apego destrutivo e neurótico ao Eu (ego). Mas, podemos perceber que a culpa recorrente é, na verdade, uma forma de tentarmos fugir da responsabilidade pelas nossas ações e circunstâncias.
Nos sentimos culpados recorrentes quando não aceitamos totalmente as circunstâncias. Em vez disso, tentamos o tempo todo proteger e consolar nosso ego machucado.
Quando permanecemos culpados, na verdade, estamos dando ainda mais força a esse “personagem” da vítima, em vez de olharmos honestamente para a situação que está diante de nós.
A culpa torna-se um sofrimento, quando se estagna, se conforma no desconforto e continua persistindo na vida, sem acabar. A culpa pode não ter um fim. Você pode achar que está enfrentando a situação porque está mergulhado nela, mas a realidade é que você não está aceitando a situação. E ela tende a se repetir, no decorrer da vida, em outras situações e relacionamentos.
Tudo que a gente resiste, persiste…
Arrependimento e culpa
A diferença entre a culpa e o arrependimento é que a culpa nunca enfrenta a má ação diretamente. Existe apenas um sentimento intenso de: “Gostaria que não tivesse acontecido. Não queria ter feito isso”, assim por diante.
No arrependimento, nós reconhecemos o erro, expomos para nós mesmos que agimos mal e que isso se originou da nossa ignorância, mas não nos deixamos levar pelas emoções e pelas nossas histórias. A noção de remorso está longe de ser tão pesada quanto a ideia do “lado mau” que a culpa produz.
Quando alguém sente que há espaço para se abrir e consegue entender que sua ação ou a do outro (a) foi movida pela ignorância, e não por uma essência intrinsecamente má, não hesita em enxergar quando faz algo que prejudica outra pessoa. Tão pouco, hesitará em pedir perdão ou se perdoar.
A compreensão das escolhas “erradas”
Precisamos compreender que tudo o que fazemos de mal a nós mesmos e aos outros tem origem em confusões e ignorâncias profundamente enraizadas, geradas através de hábitos, crenças, perspectivas, dogmas e vícios oriundos do passado, de onde aprendemos e decodificamos ocorrências específicas sobre a vida. Quando sentimos uma culpa muito grande, nos esquecemos de olhar sob essa perspectiva, já julgamos e condenamos o outro ou a nós mesmos.
Podemos perceber que as situações de vida surgem para nossa evolução e aprendizado. Temos duas escolhas: vivermos com uma mente ordinária, baseada no medo e no desejo ou com uma mente extraordinária, baseada na evolução da consciência.
A mente extraordinária é inocente e pura, mas pode ser destruída pela mente ordinária, baseada na ignorância e em crenças conceituais equivocadas que projetam um falso Eu (ego) ou uma persona ilusória.
Assim, se estamos na perspectiva da evolução da consciência, vamos aprendendo com nossos erros, então, podemos nos aproximar, mais e mais, de nossa natureza essencial e de escolhas conscientes e condizentes com propósitos mais elevados.
A observação dos erros e falhas
Nada de significativo acontece realmente dentro do processo de autoconhecimento até que o indivíduo esteja pronto para enxergar suas falhas, sem sentir uma grande culpa.
Quando há discernimento suficiente para apontar as próprias sombras, sendo apenas um observador da ignorância instalada e ressignificando a sensação/sentimento causador da culpa, estamos tendo consciência da nossa verdadeira identidade, e não de um Eu camuflado-disfarçado de vilão ou colocando o outro como tal.
O indivíduo aprende a ressignificar aquele cenário para que possa se identificar com sua própria responsabilidade e o grau de inconsciência da situação. Desta forma, através da autorreflexão, vai se desenvolvendo uma abertura para olhar os cantos escondidos e recorrentes que são, na verdade, fugazes e temporários. Devemos ter consciência dos pontos cegos da situação e de sua verdadeira natureza.
Resistência X culpa
Sim, a resistência é a culpa em si – o não querer olhar claramente para a dissolução da situação. Se desenvolvermos a perspectiva da responsabilidade (habilidade em responder), podemos sentir mais liberdade para trabalhar com essa situação sem opor resistência. A mente fica mais ágil porque há mais espaço para olhar, sem se sentir ameaçado(a) ou sem se identificar em demasia com o problema.
Quando surge o padrão da culpa e damos muito significado a ela, é provável que a mesma dará mais força a este sentimento de um “lado mau” intrínseco. Isso pode ser muito destrutivo e gerar outros padrões e comportamentos sabotadores.
Mérito X Culpa
Caso nos identifiquemos com o padrão da culpa, sem uma perspectiva mais ampliada sobre a questão, ela não terá um fim e, como diz o ditado, “quem tem culpa pecou e tem que ir pro inferno”. Dessa forma, em nossas vidas, vamos perpetuando essa crença limitante e, inconscientemente, vão sendo criadas situações infernais em nossa história de vida pela crença da falta de mérito!
Se somos culpados não temos méritos, logo, não merecemos paz, amor, prazer, alegria, relaxamento, etc. O que criamos, então, são conflitos, crises, dores, desconfortos e sofrimentos.
Veja também o artigo completo sobre “como lidar com a culpa”.
Dissolvendo a culpa
A dissolução da culpa começa na aceitação do processo em si, através do autoconhecimento e da evolução para a responsabilidade. Se traduz na prática da compreensão (leia no blog sobre julgamento), compaixão e do perdão, que sempre começa, em primeiro lugar, com a gente mesmo. (autocompreensão, autocompaixão e autoperdão)
No momento em que trazemos a autoria para criar a realidade que queremos e merecemos viver, dissolvemos o padrão da desculpa por viver culpas e assumimos nossas escolhas com mais consciência e verdade.
Da culpa para a compaixão, o perdão e a autorresponsabilidade.
Borá transcender!!!