Bem-vindos à Des-ilusão!
A vida, em sua trajetória, contém vários momentos dolorosos e desconfortantes e, caso não ampliemos nossa consciência nas causas da dor, tendemos a cair em sofrimentos recorrentes.
Uma das maiores causas do sofrimento é a percepção errônea de que o objeto, no caso, algo externo, seja a solução e a completude de nossa vida. Portanto, criamos a identificação e o apego (desejo) a um determinado objeto externo (seja material, sensorial, emocional, humano) e que não é permanente, pois pode estar neste “aqui e agora”, mas no próximo momento, já não estará mais.
Assim, surge o sofrimento, pois a natureza do desejo é a falta, a insatisfação e, dessa forma, nos apegamos para ter, ou seja, controlar o objeto do desejo. Mas, na realidade, não temos controle algum… O objeto se move, se transforma e é impermanente, daí (novamente) voltamos à falta e à insatisfação.
Aquilo que tem forma, movimento, é impermanente, “que está, mas não é..”, chama-se em sânscrito Mâyã, que nos direciona a uma visão distorcida e idealizada de que algo externo vai nos preencher e nos trazer a felicidade duradoura.
“Sofremos por que estamos Identificados (apegados) não ao que somos, mas ao que não somos, as nossas fantasias…”
Upanishads
O que é a ilusão?
É uma confusão de sentidos e sensações que provocam uma distorção da percepção. Uma visão projetada, alterada, transformada de algo real para o que seria “ideal”. Algo que gostaríamos de viver, desfrutar e sentir e que nos completaria profundamente.
Nos iludimos, na maioria das vezes, porque queremos sair do tédio, do enfadonho, da previsibilidade e de muitos desconfortos do dia a dia. Isso acontece porque desejamos ir para o “novo”, mas sem a consciência do que está se passando no “velho”, sempre projetando o “objeto externo” com a finalidade em si.
A ilusão sempre começa com a percepção errônea de quem somos no mundo, nas nossas relações e em nossa vida diária. Uma percepção distorcida do “Eu”, baseada em crenças, memórias de experiências afetivas da infância, traumas e afins.
“A percepção é a relação entre o objeto e a autoimagem e o sentimento de quem o observa.”
Yogasutras
Portanto, se estou iludido em minha identidade, a chance de eu projetar ilusões no mundo externo será muito grande. A vivência do autoconhecimento é fundamental para podermos desapegar das ilusões.
Veja o texto Autoconhecimento.
Quanto maior o universo das ilusões, maior a dificuldade de entrar em contato com a realidade passada e presente e, por consequência, a distorção de uma realidade futura.
A ilusão pode aparecer de diversas formas na vida diária. Alguns exemplos:
- Sensações corporais: desejos e vícios com drogas alucinógenas, drogas químicas, sexo, jogos eletrônicos, esportes radicais ao extremo.
- Relação com o status: matéria, poder, exibicionismo, reconhecimento, ostentação, dinheiro, carreira, política.
- Relação com os afetos: apegos, carências, medos, projeções, platonismo, édipo, etc.
- Relação com a religião: projeção de que algo externo e espiritual vai resolver a vida; apego a dogmas e crenças.
Outra forma muito comum de ilusão é a projeção de acharmos que amanhã sempre será mais especial que hoje, amanhã eu serei realmente feliz. Por exemplo: “Quando eu conquistar algo, eu consigo me realizar…”, seja uma relação (parceiro(a)), um curso (diploma), um trabalho (cargo, aposentadoria), um objeto (carro), férias de fim de ano, etc.
E, quando vamos trazendo mais clareza para quem somos realmente, acontece uma transformação gradual. As relações com os temas acimas vão se transformando de forma consciente, pois ampliamos a visão do que realmente queremos essencialmente na vida, a partir da relação interna com nossa essência, e, posteriormente, na relação com as pessoas e o mundo.
Como sair da ilusão?
O encontro com a verdade, muitas vezes nua e crua, pode ser muito dolorido e desconfortante, mas é através dela que podemos sair da ilusão.
É deste encontro especial que surge a des-ilusão, ou seja, sair da ilusão, a grande oportunidade de transformação profunda interior, daquele que percebe que antes do objeto, existe um sujeito (o Eu) e quem é este sujeito apegado ao objeto?
Quando vamos nos desenvolvendo no caminho do autoconhecimento, percebemos claramente que somos os autores de nossa vida. Somos os únicos responsáveis pelas nossas dores e prazeres e consequências disso.
Leia o artigo A consciência da inconsciência.
Desta forma, ampliando a consciência e trazendo clareza do que é real e verdadeiro, e o que difere do que é falso e mentiroso, vamos trazendo a sabedoria para viver a vida de uma forma mais harmoniosa.
Verdadeiro (aquilo que realmente existe) # Falso (aquilo que não existe)
Vamos percebendo que criamos ilusões em nossas vidas para escaparmos de situações, relações e vivências que não queremos enfrentar no presente, e que geram desconfortos, assim, nos apegamos em fantasias e invenções prazerosas para nos livrarmos das dores da vida.
“O que é a Desilusão?
Des-ilusão: é sair da ilusão e encontrar a verdade!
Bem vinda desilusão!”
O Prazer para aliviar a Dor
Sair da ilusão implica em encarar realmente o que estamos projetando e fantasiando no mundo externo, em função de algum “vazio interno”.
Leia também Medo do vazio.
E assim, a vinda na desilusão, apesar de desconfortável e dolorida momentaneamente, é uma grande oportunidade de ampliação da percepção, do desapego e transformação e de poder viver a vida em infinitas possibilidades e potencialidades.
É fundamental e muito curador, entrarmos em contato com a dor e a tristeza que podem vir da falta, da abstinência, do abandono e vazio. É um ritual arquetípico de passagem primordial.
Em nossa sociedade ocidental, temos a tendência de não entrar em contato com estas emoções e sentimentos desconfortantes ligados à perda, tristeza, raiva, dor, mágoa, ou seja, a permissão para a vulnerabilidade.
Da mesma forma que projetamos no objeto externo, a causa da felicidade, nestas horas de desilusão, também projetamos no objeto externo a causa da infelicidade, e assim, nos sabotamos e pulamos de ilusão em ilusão, sem a prática da autorresponsabilidade.
“Se não mergulhamos realmente no momento presente,
o futuro só vai repetir o passado.”
Leia também Autossabotagem.
Como podemos viver de forma mais leve?
- Compreender a lei da impermanência, ou seja, tudo é passageiro e transitório.
- Compreender que este momento, o agora, é a única certeza que temos, além da morte e, portanto, podemos desfrutar o presente (a vida) e nos permitir a alegria e o amor no agora.
- Compreender que tudo começa nos pensamentos e sensações e que a densidade vem da percepção ilusória de como olhamos para nós e para a vida.
- Compreender que viver é relacionar-se e o relacionamento mais importante durante as 24 horas do dia é conosco!
- Compreender que nada acontece por acaso, e que tudo tem algo para ajudar em nosso aprendizado e evolução, por isso a aceitação é fundamental.
- Compreender que a vida é muito sagrada e é uma dádiva estar aqui respirando, por isso, o caminho da gratidão é fundamental.
“A desilusão é a visita da verdade…”
Chico Xavier
Conheça a Terapia do Ser.