Meritocracia é um termo que significa que todo indivíduo é capaz de prosperar somente com suas capacidades e esforços, sem precisar da ajuda da sociedade, estado ou família. É um sistema que privilegia as ‘qualidades’ do indivíduo como a inteligência, dons, talentos, vocação, e não valoriza as ‘contingências’ da vida, a sua origem familiar. econômica, social, educacional e relações sociais.
O conceito de meritocracia, porém, só pode ser válido quando todos os indivíduos de uma sociedade possuem exatamente as mesmas condições sociais, culturais, econômicas e psicológicas.
Essa foi uma ideia que se perpetuou no século XIX, especialmente nos países anglo-saxões e encontrou grande acolhida nos Estados Unidos. Afinal, nestes países, predomina a concepção protestante, especialmente calvinista, que a prosperidade econômica é um sinal da bênção divina.
Nos Estados Unidos, já faz parte do imaginário nacional a ideia do “self-made man”, o homem que se faz (a si mesmo), apenas com seu próprio empenho. A ideia de meritocracia inspiraria políticas públicas que garantissem que todos os cidadãos tivessem as mesmas oportunidades.
Mas será que realmente partimos do mesmo ponto? Quais igualdades sociais se fazem realmente presentes? Todos temos as mesmas chances para conquistar e desenvolver as nossas potências?
O que são os verdadeiros méritos?
A meritocracia nos dias atuais
É importante investigarmos o quanto este tema da meritocracia tem uma real usabilidade em nossa sociedade, principalmente em nosso país, com tantas desigualdades em vários níveis.
A teoria, por trás disso, é que a existência da meritocracia certamente causaria uma quebra no modelo da “burguesia” (aristocracia), na questão das heranças sociais, culturais e econômicas, de uma geração à outra. Fica evidente que a meritocracia, principalmente em nosso país, não existe, pois, a mesma causaria uma quebra nos modelos “coloniais” (hierárquicos) que ainda vivemos por aqui, ou seja, no que se refere às classes sociais, econômicas e políticas que têm poder de dominação e controle sobre a sociedade e suas leis
A Meritocracia é uma ideia que coloca como tipo ideal de sociedade aquela onde o poder deve ser distribuído de acordo com os méritos de cada pessoa, isto é, suas habilidades e talentos.
O problema é que a premissa da meritocracia é falsa, e mesmo se fosse verdadeira, a evidência também não a provaria. São pouquíssimos os países que realmente dão condições igualitárias ao cidadão, independente de gênero, classe social e afins.
A palavra é muito recente, datando do livro de 1959, de Michael Young, chamado The Rise of Meritocracy (A Ascensão da Meritocracia), onde o autor retrata uma sociedade em que toda a autoridade é distribuída conforme o mérito individual.
Pois bem, o que essa ideia tem a ver com causar quebras na passagem da riqueza familiar de uma geração para outra? Absolutamente nada. Se o mundo fosse 100% meritocrático, as famílias poderiam muito bem se perpetuar no poder e riqueza por séculos, sem nenhum problema. Só precisariam tomar vários cuidados para criar os filhos incentivando ao máximo todos os seus talentos e ensinando-os habilidades necessárias para, por mérito, continuarem no topo.
E seja lá quem tivesse mais poder e riqueza nesse mundo, certamente teria também ao seu dispor todos os recursos financeiros e contatos sociais para viabilizar esse tipo de transmissão de habilidades para a próxima geração.
Notem que “meritocracia” é a ideia de “poder pelo mérito”. Não é sinônimo de apenas “mérito”, onde o sistema seria justo e igualitário e todos teriam as mesmas oportunidades para expandir seus potenciais.
Sabemos que é totalmente utópico este caminho igualitário do “ponto de partida em condições iguais”, pois dependendo de seu gênero, cor, classe social, endereço onde vive, educação, relações, etc, pode interferir demasiadamente nos resultados das conquistas na vida.
Por exemplo, se estamos numa corrida de carros, como a ‘Fórmula 1’, e você tem um fusquinha (que se dedicou muito para conquistar) e seu ‘concorrente’ ao lado, recebeu uma “Ferrari” de presente dos pais, quem você acha que conquistaria o pódio? Você não teve méritos por não chegar ao pódio?
Mas existem exceções sim, pessoas que com quase nenhuma perspectiva na vida conseguiram se superar e alcançar inúmeros resultados e conquistas por méritos próprios. Mas sabemos que são poucos os afortunados que superaram as contingências (circunstâncias) da vida e puderam estar nos lugares certos, nas horas certa, encontrando pessoas certas, em momentos certos. Podemos também chamar estas situações de sorte, acaso e/ou sincronicidade.
Meritocracia é para poucos
Como vemos acima, alguns estudiosos têm motivos para argumentar que nem sempre a meritocracia, como único critério, é justa para fins de resultados e recompensas. Este mito também pode ser sustentado por diversas pesquisas. Robert H. Frank (professor, colunista do The New York Times e autor do livro Sucesso e sorte – O mito da Meritocracia) é um dos estudiosos que dissertou sobre esse assunto.
Em entrevista à revista “Exame”, Frank disse que “[…] diversos estudos comprovam que a maioria das histórias de sucesso, especialmente as de sucesso estrondoso, foram favorecidas pela sorte, isto é, por ‘fatores externos’, independentes do talento ou esforço de cada pessoa.”
Além disso, outras evidências comprovam que, principalmente em países mais desiguais como o Brasil, a diferença de oportunidades, junto às contingências, faz com que a meritocracia privilegie poucas pessoas.
Não há dúvidas de que é verdade que a meritocracia gerou processos mais justos ao longo do tempo. O mercado de trabalho é um exemplo, onde esse sistema contribui para reduzir a discriminação por raça e gênero, por exemplo.
Entretanto, essa premissa não funciona em qualquer caso. Para que a meritocracia seja aplicada de forma ideal, deve haver, no mínimo, um “ponto de partida em comum ou mais justo” entre os competidores.
Meritocracia como um caminho para uma sociedade mais justa
O sistema meritocrático é um avanço em relação aos modelos mais desiguais. Sabe-se que, antigamente, as posições hierárquicas eram muito mais definidas por hereditariedade, classe social, família e fatores que não dependiam do próprio indivíduo, mas sim, das circunstâncias em que ele estava inserido.
Com a ascensão da meritocracia, as oportunidades de escolhas e o reconhecimento pelo esforço, independente da origem das pessoas, abriram diversas portas para impedir que o determinismo (imposto) definisse o futuro dos indivíduos.
Além disso, hoje o mérito é um critério importante para o bom funcionamento de diversos processos e para a distribuição de recursos. “Apesar de estarmos longe do ideal, resultados positivos podem ser observados, principalmente, em organizações privadas, onde pode-se criar um sistema bem definido e justo.”
A meritocracia funciona como um motivador
É fato que um dos principais benefícios que a recompensa por mérito trouxe foi a força produtiva que gerou o crescimento econômico e social. Não só isso, mas também porque entendemos que “nosso esforço será recompensado”
Para aplicar a meritocracia de forma justa, deve ser criado um processo claro e mensurável, tanto pelos governos, como pelas empresas, escolas, famílias, por cada um de nós e por todos os grupos sociais.
Relembrando um dos mitos: “a meritocracia nem sempre é justa”. Mas tanto as organizações como cada um de nós, temos a chance de aplicar esse sistema, sim, de forma mais justa. Basta criarmos oportunidades iguais para todos, considerando as diferenças e com um “ponto de partida” em comum para os participantes.
O autoconhecimento é sempre a chave inicial para uma vida mais harmônica. Não teremos um mundo mais igualitário, amoroso e justo se não nos conhecermos e ampliarmos a consciência de nossa espécie humana.
O despertar para uma visão mais ampla, colabora para vivermos numa verdadeira e igualitária aldeia global e sermos interdependentes. Desta forma, o amor e a compaixão podem ser grandes oportunidades para sermos humanos meritosos.